quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A VITÓRIA DE SÓCRATES

Por David Marques




Reuters

Apesar de ter sido “derrotado” pela oposição, José Sócrates continuará firme (ou cambaleando) na liderança do Governo português. De facto, o político português conquistou mais votos do que qualquer um dos outros partidos, embora tenha perdido a maioria absoluta conquistada em 2005 e a confiança de mais de 8% dos portugueses votantes.

Contabilizando, o partido que equipa de rosa joga mal, mas continua a vencer. Melhor dizendo: perderá a sua supremacia parlamentar absoluta, contentando-se agora com 96 deputados que, ainda assim, lhe garantem uma hegemonia relativa. Do lado dos sociais-democratas, Ferreira Leite até fez melhor do que o seu antecessor destituído por Sampaio, garantindo mais três lugares na moderníssima sala parlamentar, fruto de um aumento de 0,32%. Em terceiro lugar classificou-se o CDS-PP com 21 deputados, mais cinco do que o Bloco de Esquerda e seis do que os discípulos de Cunhal, com a particularidade interessante e incansavelmente frisada por Paulo Portas de ter sido a força política que “menos dinheiro despendeu em toda a campanha”. Pela política de contenção, exemplar em tempos difíceis, a pasta das finanças deveria ser entregue a Portas. Ideia infeliz, talvez, pelo simples facto de ser desregrado quando se trata de conceder algum “pilim” para a defesa dos mares lusitanos.

José Sócrates é, sem dúvida, um homem diferente daquele que chegou ao Governo há quatro anos. Sobreviveu – citando-o – a “campanhas negras” e “caças ao homem”, desde o caso da Independente, passando pelo Freeport, TVI, Vale da Rosa e preconizando o caso das escutas aos computadores da Presidência da República. Como consequência, o corpo do primeiro-ministro não mente: os quilos a mais são notórios, o cabelo grisalho não disfarça a idade nem as enxaquecas provocadas não apenas por Cavaco, Alegre ou Francisco Louçã, mas também por Maria de Lurdes Rodrigues (a tal que conseguiu mobilizar centenas de milhares de pessoas num só dia) e pelos 9 jornalistas que já processou. Sócrates iniciará o próximo legado em São Bento ferido. “Antes ferido do que moribundo”, replicarão os optimistas socialistas, conscientes de que, com a esquerda contra si, só resta uma pequena facção de direita ou a hipótese remota do estabelecimento de acordos de regime entre as duas forças proeminentes, hipótese essa que parece afastada. Será, ao que tudo indica, o Governo de uma “esquerda [dentro do] possível”, onde reinará um homem cuja actividade política até se iniciou na JSD.