segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dia Universal da Criança

Por Joana Perez

Conhecemos o dia 1 de Junho como «Dia Mundial da Criança», por crenças religiosas - o mês de Maio homenageia Maria, a mãe de Jesus. A ONU reconhece 20 de Novembro como «Dia Universal da Criança».

A comemoração do «Dia da Criança» varia de país para país. Em Portugal, celebra-se a 1 de Junho, no Brasil a 12 de Outubro, na Alemanha a 20 de Setembro. O Japão diferencia os meninos, a 5 de Maio, das meninas, a 3 de Março. A ONU reconhece 20 de Novembro como «Dia Universal da Criança» por ser a data em que este dia foi oficialmente aprovado pela Declaração dos Direitos da Criança, adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 20 de Outubro de 1959. Mais tarde, em 1989, a Convenção dos Direitos da Criança viria também a aprovar este dia.

Muitas escolas e outros estabelecimentos de Educação tentam celebrar este dia dando maior atenção às necessidades e direitos das crianças. A diferença é reforçada como algo natural e existe um conceito ao qual se dá mais destaque: os direitos.

Em alguns países menos desenvolvidos, a UNICEF foca este dia para as crianças que não sabem o que é ir à escola, nunca pegaram num livro, nem, certamente, se lhes colocassem a lista dos seus direitos à frente, a saberiam ler. A divulgação da efeméride nos media faz-se para que, neste dia, todas as pessoas com acesso a meios de comunicação possam saber o que se passa nestes países e voluntariamente oferecer o seu apoio.

Seja em que país for, o objectivo da comemoração deste dia é, ao invés de apelar ao consumismo e fomentar a frivolidade, mostrar, num contexto “mais pequenino”, o que são os direitos humanos, a diferença como uma característica positiva e interessante e, no fundo, passar a mensagem de que «Ser Criança» é uma das melhores fases da vida e ver o contentamento nos rostos dos «pequeninos» que participaram de um dia que lhes é dedicado.

No entanto, em Portugal, estes princípios estão em falta. Ana Rodrigues, promotora turística, considera que o «Dia da Criança» está longe de seguir as máximas das Nações Unidas: «já reparei que os pais dos amiguinhos Laura (filha de Ana) simplesmente chegam a casa à hora de jantar com uma prenda e está comemorado o dia. Tento não fazer isso com a Laura, mas ela vê os outros a receberem jogos de computador e bonecas e também quer…». Para Ana, além de o conceito estar errado, a comemoração é sempre no dia 1 de Junho, «nem sabia que existia o dia 20 de Novembro» acrescenta Ana.

Ainda que exista uma percepção geral acerca da importância da criança e do seu bem-estar, 70% dos 11 milhões de mortes todos os anos mantêm as mesmas causas: Malária, pneumonia, HIV, parto prematuro, falta de oxigénio à nascença. E, claro está, os países onde estes números se concentram são os do Terceiro Mundo. Nestes também, a exploração infantil desacata um dos maiores princípios da Declaração dos Direitos da Criança.

A questão que permanece é se a UNICEF e tantas outras instituições fazem todo o tipo de esforços para lutar contra a situação miserável em que se encontram muitas crianças em todo o mundo, porque é que ainda calçamos sapatilhas feitas à mão por menores, crianças em vários países morrem com apenas uma constipação, porque é que existe, com a diferença, desigualdade? A situação de iniquidade existe, cabe-nos a nós…pessoas singulares e representantes de poder fazer por mudá-la, ao invés de torná-la banal.

Fontes:
Human Rights Education Associate: http://www.hrea.org/index.php?doc_id=919 Time and Date: http://www.timeanddate.com/holidays/un/universal-childrens-day Learn: http://learn.christianaid.org.uk/Other/Events/universal_childrens_day_2009.aspx Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Mundial_da_Crian%C3%A7a Comemorando: http://comemorando.blogspot.com/2004/11/20-de-novembro-dia-universal-da-criana.html
sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A controvérsia chamada José Saramago

Por Isa Mestre

Há dias que não se fala de outra coisa. José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, encarregou-se de oferecer no passado dia 15 de Outubro mais um “presentinho envenenado” à classe religiosa do país. E se em anos anteriores o Nobel se havia preocupado em disfarçar as suas convicções religiosas com títulos mais ou menos pomposos, desta feita não fez por menos e simplificou a situação recorrendo ao nome de uma das personagens mais marcantes da sagrada escritura: Caim.

Num registo sóbrio, polémico e inquieto, Saramago escreveu com clareza aquilo que nenhum escritor português havia escrito até hoje. Tecendo duras críticas à igreja e ultrajando o Deus em que acreditam as suas gentes, José Saramago merece que lhe sejam tecidas algumas considerações.

A primeira é a de que a escrita é acima de tudo um acto de coragem. E enquanto acto de coragem, tem os seus guerreiros. Ele é sem dúvida um deles. A segunda é que, enquanto escritor e ser humano crítico face à realidade que o rodeia lhe assiste o direito de pensar e escrever sobre o que pensa, vive e sente. Por fim, e porque ao escrever Caim Saramago teve perfeita consciência da controvérsia que este geraria, não poderia deixar de referir que pese embora a liberdade inerente ao acto da escrita, qualquer livro implica uma boa dose de bom senso e respeito por terceiros.

Ora, é precisamente sobre este ponto que creio valer a pena reflectir. Será que foram efectivamente cumpridos pelo Nobel os pressupostos de respeito e bom senso que a escrita de uma obra requer? Ou para além da liberdade Saramago fez uso da chamada “libertinagem”?

Dizem algumas vozes que ao Nobel se lhe deve perdoar a idade. Pois, em abono da verdade se diga que se a idade despromove o ser de bom senso, desprovê-o também de algumas das principais qualidades que distinguem o escritor sublime do banal.

Carta ao amigo José

Por David Marques

Caro José

Tomei a liberdade de escrever esta carta aberta porque ao longo dos últimos anos acabei por perder o teu contacto. A tua vida inquieta contrasta com a minha, que se vai passando como nos tempos do liceu. Sim Zé, bem sei o quanto me desprezas por continuar a apreciar torresmos com cerveja, mas foi esta a vida que escolhi, longe dos lampejos que agora te encandeiam como nunca antes.

No entanto, como os verdadeiros amigos são solitários juntos, aqui estou eu: estendendo a mão a quem mais precisa depois de tantos anos. Sei que, apesar de não ter o privilégio de te contemplar há mais de três décadas – a não ser naquela oportunidade em que vieste ao casamento da tua prima aqui em Alijó – continuas generoso, sempre disposto a ajudar não só o próximo como também os seus amigos. Ainda hoje recordo com nostalgia e uma lágrima no olho o dia em que no pátio do recreio, no intervalo da parte a tarde por volta das três e vinte e um antes de irmos ao Chico das bicicletas besuntar-nos em óleo, defendeste a Conceição – aquela menina de olhos azuis-claros como água – daqueles matulões malfeitores da turma da sétima classe que há quase uma semana estavam de olho nela. Claro que acabaste por cobrar a devida recompensa à Sãozinha, porque aqueles hematomas não podiam passar impunes, mas sempre a defendeste como nunca vi um homem defender uma mulher. Ainda hoje sempre que dou de caras com ela pergunto-me por que raio sempre foste tão solidário com ela, é que não imaginas como continua pavorosa. Ainda assim, depois de teres mostrado a tantos de nós o teu nobre carácter e bondade espiritual – não me esqueço quando venceste o prémio de jovem paroquiano do ano – parecem ser cada vez mais os que duvidam de ti. Não entendem que o teu único objectivo é resolver os problemas de todos nós. Mal-agradecidos esses que te acusam de teres falsificado o teu curso, logo tu que tinhas a tabuada na ponta da língua sem ter de contar pelos dedos. E mais ingratos são os que te culpam vezes sem conta de pressões institucionais e de tráfico de influências, quando a única vez em que te vi nesse ramo acabaste rapinado, quando tentaste vender um cromo do Pantera Negra, o mais raro de todos, no mundial dos Magriços em 1966.

Por tudo isto peço-te Zé: volta para perto de nós. Se precisares ainda tenho um lugar como assistente de Serralheiro na minha oficina. Sim, sempre te disse que um dia as madeiras do tio António seriam minhas…e aqueles calendários todos das meninas.

Do teu amigo que te guarda no coração com saudade

Manuel Escanifrado

O Mundo e o Tabaco

Por Ana Pinto, Ângela Gago, Lénia Maria e Ruben Remédios

Assinalou-se, no passado dia 17 de Novembro, o Dia do Não-Fumador. A efeméride fez-nos pensar acerca da necessidade de haver um dia destes. Aliás, o tabagismo é um problema tal na nossa sociedade que, contando com o Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado a 31 de Maio, contam-se dois os dias dedicados a alertar as pessoas para os riscos do tabaco. Para uma ideia mais real da dimensão deste problema, podemos dizer que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o tabagismo é a maior causa de morte evitável, tirando a vida a cerca de 4,9 milhões de pessoas por ano no mundo, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia.

Seria de pensar que, com dados destes, divulgados e à disposição da população em geral, houvesse uma quantidade relativamente reduzida de fumadores. Mas verifica-se exactamente o contrário. Sempre que vamos a um café, ou mesmo no nosso local de trabalho, deparamo-nos com, pelo menos, um fumador. Em dados mundiais, fornecidos novamente pela OMS, 47% da população mundial masculina e 12% da feminina são fumadores.

É de louvar, no entanto, que haja agora um ligeiro decréscimo no número de fumadores, relativamente a décadas passadas. Mas outra coisa não seria de esperar: as campanhas anti-tabagismo são cada vez mais agressivas, os preços sobre esta droga lícita aumentam e cada vez mais cedo as pessoas tomam posse das informações acerca deste comportamento de risco. Quem começou há muito tempo e está realmente viciado, alega que nenhuma campanha é forte o suficiente para fazer com que um fumador abandone o tabaco. Apenas pode servir para impedir a adesão de novos fumadores. Que para largar o fumo, é necessária muita força de vontade e que essa deve vir do próprio indivíduo (independentemente dos motivos externos que levam à decisão interna).

Em décadas passadas, gerou-se um culto pela imagem do fumador, que era visto como sensual, atraente e sociável. Essa imagem distorcida fez com que milhões de pessoas sucumbissem aos malefícios desta droga – que só por ser legal, não deixa de o ser. Ainda hoje encontramos em filmes um sem número de artistas que orgulhosamente exibem o seu cigarro, associando-o à sua imagem de marca.
Gerou-se igualmente o mito de que uma pessoa que não se
ja capaz de aguentar com o fumo é fraca. Não podia estar mais longe da verdade: quem se incomoda, quem se opõe, quem sofre com o fumo tem a maior capacidade de se manter fiel àquilo que sabe estar certo, porque se informa e escolhe ser saudável, vivendo a mesma emoção de uma forma natural e igualmente excitante, porque o seu corpo reconhece o inimigo e o rejeita.

Não sabemos o que dizer quanto ao futuro. Apenas temos o desejo de uma sociedade mais consciente, menos preconceituosa e muito mais forte, com base nas atitudes positivas da vida. Como lá chegar, o que é necessário que aconteça, não nos compete a nós. Nós fizemos a nossa parte. Talvez esteja aí a solução: na decisão individual que pode mudar o colectivo.