sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A controvérsia chamada José Saramago

Por Isa Mestre

Há dias que não se fala de outra coisa. José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, encarregou-se de oferecer no passado dia 15 de Outubro mais um “presentinho envenenado” à classe religiosa do país. E se em anos anteriores o Nobel se havia preocupado em disfarçar as suas convicções religiosas com títulos mais ou menos pomposos, desta feita não fez por menos e simplificou a situação recorrendo ao nome de uma das personagens mais marcantes da sagrada escritura: Caim.

Num registo sóbrio, polémico e inquieto, Saramago escreveu com clareza aquilo que nenhum escritor português havia escrito até hoje. Tecendo duras críticas à igreja e ultrajando o Deus em que acreditam as suas gentes, José Saramago merece que lhe sejam tecidas algumas considerações.

A primeira é a de que a escrita é acima de tudo um acto de coragem. E enquanto acto de coragem, tem os seus guerreiros. Ele é sem dúvida um deles. A segunda é que, enquanto escritor e ser humano crítico face à realidade que o rodeia lhe assiste o direito de pensar e escrever sobre o que pensa, vive e sente. Por fim, e porque ao escrever Caim Saramago teve perfeita consciência da controvérsia que este geraria, não poderia deixar de referir que pese embora a liberdade inerente ao acto da escrita, qualquer livro implica uma boa dose de bom senso e respeito por terceiros.

Ora, é precisamente sobre este ponto que creio valer a pena reflectir. Será que foram efectivamente cumpridos pelo Nobel os pressupostos de respeito e bom senso que a escrita de uma obra requer? Ou para além da liberdade Saramago fez uso da chamada “libertinagem”?

Dizem algumas vozes que ao Nobel se lhe deve perdoar a idade. Pois, em abono da verdade se diga que se a idade despromove o ser de bom senso, desprovê-o também de algumas das principais qualidades que distinguem o escritor sublime do banal.

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